Tese analisa empoderamento feminino e sustentabilidade ambiental no Sul da Bahia
"Mulheres em rede: uma experiência de empoderamento feminino e sustentabilidade ambiental no Sul da Bahia" é o titulo da tese de doutorado do professor Guilhardes de Jesus Júnior, atual diretor do Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Estadual de Santa Cruz -UESC. Tendo como orientador o professor/Ph.D. Salvador Dal Pozzo Trevizan (UESC) e coorientadora a professora/DSc. Mônica de Moura Pires (UESC), a defesa ocorreu no dia 12 de dezembro para uma banca examinadora composta por Célia Regina Ferrari Faganello (UFSB), Maristela Oliveira de Andrade (UFPB), Christiana Cabicieri Profice, e Elias Lins Guimarães (UESC).
O trabalho mostra a percepção do empoderamento feminino num grupo de mulheres, que tem trabalhado na promoção de melhoria de vida para essa coletividade, a qual ainda carece de maior visibilidade a respeito dos processos que a envolvem, para que possam experimentar verdadeira situação de equidade de gênero. Como objetivo geral analisam-se as relações entre equidade de gênero e sustentabilidade ambiental, tomando como referência a Rede de Mulheres de Comunidades Extrativistas e Pesqueiras do Sul da Bahia, que está presente em seis municípios (Belmonte, Canavieiras, Una, Ilhéus, Itacaré e Santa Cruz Cabrália), relacionando-as ao contexto histórico, geográfico, econômico e político.
O professor Guilhardes Júnior parte do estudo singularizado dessa Rede e busca explicar de que maneira a formação dessa rede de cooperação, exerce influência nos relacionamentos de cunho familiar, comunitário, econômico e político das mulheres, e como essa rede se fortalece interna e externamente, modificando ou consolidando seus olhares sobre o modo de relacionar-se com o meio natural.
"Assim, parte-se da premissa de que, para se compreender a sustentabilidade, não se pode apenas levar em conta a utilização contínua dos recursos naturais e a justa repartição dos ganhos econômicos, mas também fatores culturais, bem-estar, relações de poder entre gêneros e o reconhecimento das limitações ecológicas do espaço ocupado. Tais observações nos conduzem a formular hipoteticamente a seguinte resposta: a organização em rede e o empoderamento feminino associam-se a processos de mudanças nas relações econômicas e de poder, e proporciona melhorias nas condições de vida dessas mulheres e de suas famílias, delineando sua influência na gestão e conservação dos recursos naturais no entorno de suas comunidades," frisa o professor.
"Buscando-se responder aos objetivos traçados,foram feitos levantamentos de dados de fontes primárias e secundárias a respeito das comunidades de origem das mulheres dessa Rede, e a realização de entrevistas semiestruturadas aplicadas em dois grupos: com mulheres consideradas líderes da Rede, e com mulheres identificadas como participantes da Rede, no período de agosto de 2013 a março de 2014. As entrevistas seguiram um roteiro pré-elaborado, por meio de visitas às entrevistadas e em eventos promovidos pela Rede ou por seus parceiros. Após esta etapa do trabalho, foram feitas a transcrição das gravações e em seguida as análises utilizando-se a ferramenta da análise de conteúdo e estatística descritiva. Pôde-se constatar que a Rede tem influenciado na reconstrução da identidade das mulheres, promoveu mudanças significativas nos aspectos social e familiar dessas mulheres, especialmente no que diz respeito ao aumento da autoestima, aquisição de conhecimento, acesso a políticas públicas e concretização de direitos. Esse trabalho tem sido realizado em intensa interação com parceiros, nos quais se destacam a ONU Mulheres, Universidades Públicas e Secretarias de governo, especialmente a Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Bahia," explica.
Guilhardes Júnior explica que "a Rede também encontra limitações à sua atuação, especialmente na socialização de informações organizacionais e na realização de suas atividades para além da Reserva Extrativista de Canavieiras. A Rede é vista como importante instrumento na proteção dos recursos naturais através da realização de ações educativas (prevenção) e auxiliar em ações de fiscalização (repressão). A consolidação dessas mudanças podem, ao longo do tempo, proporcionar melhores condições econômicas às suas integrantes, à medida que a capacitação profissional, o acesso às políticas públicas e a obtenção de financiamentos para projetos elevem seu padrão de vida," conclui o professor.